sexta-feira, fevereiro 20, 2009


Fiquei pensando sobre o que postar sobre o Carnaval, e antes de ter preguiça e apelar pra confetes e serpentinas lembrei-me de um livro que comprei por R$14,90, em uma dessas bienais do livro de BH.

Tenho a imagem nítida na cabeça de quando voltei feliz da vida para casa com o meu exemplar de A Antropologia da Face Gloriosa, de Arthur Omar. Não conhecia nada sobre o cara, mas fiquei encantada com aquelas imagens fortes, fulminantes mesmo, iluminadas. As 76 fotografias do livro compuseram uma exposição no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio e de São Paulo de 2001.

Foi legal lembrar do livro porque, pela primeira vez, resolvi pesquisar sobre ele. Fiquei sabendo que as tais fotografias foram tiradas por uma câmera 35mm, analógica, simplezinha mesmo, sem nenhum controle de tempo, abertura, exposição, nada. Omar, durante 25 anos, sai pelas ruas do Rio com sua Nikon (não consegui descobrir qual), para "colher as experiências fulminantes do transe carnavalesco". Segundo ele, "a face gloriosa é a expressão de alguém que está passando por um momento de transe, por uma experiência alterada da consciência, por um estado superior ao seu estado normal, isto que pode acontecer com qualquer um a qualquer momento, despercebidamente. A diferença é que no carnaval as pessoas estão pré-dispostas a passar por estes momentos, o que torna a captura de faces gloriosas mais fácil nesta época". Entendi perfeitamente o que ele quis dizer. Tenho conhecimento de causa.

Outra coisa bacana que ele diz sobre as fotos: “pude perceber a diferença de algumas expressões que eram usuais em 70 e já não são mais usadas hoje em dia, o mesmo acontece com roupas, com maquiagens e com a própria atitude dos foliões."

Mais: "faz parte da Antropologia ... a interação do fotógrafo, se eu usasse uma tele perderia este fator essencial. No carnaval as pessoas se preparam para ver e serem vistas, faz parte ela se exibirem para as câmaras. Não é preciso nenhum voyerismo, com uma lente que mantenha o fotógrafo afastado. Quase não preciso abordar as pessoas para fotografá-las, elas se oferecem. O meu trabalho é desmontar a pose artificial que elas preparam e encontrar o verdadeiro êxtase".

Depois, no laboratório é ele faz a diferença. O filme que ele usava (Tri-X) é revelado de um jeito, no mínimo, curioso e inspirador: Omar escola uma música ao acaso, e o filme fica no revelador sendo mexido de acordo com o ritmo da melodia. O resultado, claro, é sempre distinto.

O livro é um luxo. Melhor ainda ter comprado ele por R$14,90. Vi na Estante Virtual por R$40,00. Hahahaha. Mas vale a pena, as imagens são maravilhosas.

Sobre o êxtase do carnaval, esse ano será mais contido, mas não mesmo interessante: estou indo agorinha pra Sampa. Benedito Calixto, Liberdade, Centro Histórico e outros passeios turísticos. Claro que vai ter que rolar um sambinha. Se alguém tiver alguma sugestão para essa empreitada, será muito bem vinda!

E bom Carnaval pra todo mundo!!!

Um comentário:

martina disse...

tá to legal isso daqui....
:D